Pedro Cabral Santo

Características dos projectos e do trabalho plástico de Pedro Cabral Santo são o seu propósito experimental e o valor atribuído à combinação de meios técnicos e de referências culturais que permitam desencadear a reflexão em torno dos diferentes temas convocados. Assim, durante o processo de realização dos seus projectos, Cabral Santo demonstra um particular interesse em explorar as diferentes linguagens e os vários mecanismos funcionais que podem intervir na execução dos seus objectos escultóricos, e sobretudo em desenvolver soluções estéticas e formais que sublinhem a eficácia e o impacte do seu domínio na constituição de um corpo ou de uma imagem geradora de sentido. Daí decorre, por exemplo, o papel preponderante conferido aos materiais que emprega, a maior parte das vezes materiais não convencionais, escolhidos mediante a análise e compreensão das suas qualidades e dos efeitos que servem a resolução e a coerência plástica de cada peça.
Por exemplo, do conjunto de peças que produziu recentemente podemos salientar S/Título (dedicated to little Vasco who will be born soon) de 2001, oportunidade de verificar como Pedro Cabral Santo remete o espectador para a possibilidade de o objecto escultural funcionar como um texto. Trata-se de uma instalação escultórica de parede, cuja realização comportou a composição caligráfica da palavra «Empty» – a partir de segmentos de uma mangueira de borracha, em cujos estreitos tubos circula ininterruptamente uma solução líquida (composta por vodka com laranja e «dry-glo acrilic»), por acção de um sistema de compressão de ar e de drenagem. Todavia, o que à primeira vista parece ser o elemento central desta obra, a palavra escrita, mais não é do que uma das referências que se apresentam a um acto de leitura estabelecido a partir da reconstituição de um jogo de linguagem. Um jogo que renuncia a fixar-se na interpretação literal da palavra «vazio», e que funciona através da reconstituição do elo formado pela combinação de referências. Neste caso referências fundamentalmente contraditórias, dado compreenderem alusões que tornam patente a relação díspar entre diferentes realidades, como o cheio e vazio ou o sólido e líquido.
Estamos assim perante um exercício que visa fazer ressaltar um princípio dualista. Aquele que, estando aqui presente através de diferentes qualidades e estados da matéria, tem a particularidade de encontrar expressão noutros trabalhos de Cabral Santo, mediante a conjugação de outros enunciados. Recuando um pouco mais no tempo, podemos ir ao encontro de Óxido PlayEurope de 1996, obra que tornou conhecido o seu trabalho, e onde o artista invoca questões políticas e aspectos socioculturais da actualidade, relacionando a aparente dimensão monumental da União Europeia com a situação de alguns territórios periféricos. E aparente monumentalidade porque, não obstante a sua potente edificação em altura, o que acaba por ressaltar é uma estrutura frágil e complexa feita de «matutazos». Tal acontece devido à forma peculiar desses objectos lúdicos, mas sobretudo ao facto da sua presença assinalar outros pontos de interesse. Por exemplo, no que diz respeito ao plano simbólico, a sua estreita ligação com o mundo da fantasia e, por seu turno, a relação paradoxal e o contraste irónico que ajudam a veicular, quando se analisa a perspectiva vertiginosa e a óbvia tensão que se desenham sobre a paisagem retratada: a distância que separa o Ocidente dos países do Terceiro Mundo, representados na peça por pequenas bandeiras que circundam a edificação, e a pesada reprodução das desigualdades que se associam ao fenómeno da migração, como as condições precárias em que vivem nos países de acolhimento, a xenofobia e também o populismo das opiniões a respeito do excesso de estrangeiros. Realidades que não são desconhecidas nem de Mr. Magoo e Goofy, assim o indicam os textos assinados e plagiados pelas personagens retratadas nos «matutazos», que Cabral Santo reuniu no catálogo da exposição Jetlag (Reitoria da Universidade de Lisboa, 1997), onde a peça foi apresentada pela primeira vez.
É com semelhante à vontade que frequentemente Cabral Santo trabalha em vídeo com referências muito directas à cultura popular. É o caso do seu vídeo Even a super hero needs a place to live, to talk about his work and a life to live, de 2001, no qual se ocupa de três conhecidas personagens da BD para fixar sob um grande plano, que sublinha a proximidade e o lado mais pessoal de cada uma das três figuras, os apontamentos e as reflexões pessoais que nos vêm surpreender com uma percepção inusitada sobre a vida de cada herói. É que se esperávamos pela revelação dos feitos memoráveis e de pequenas histórias contadas na versão oficial para grande consumo, o que vamos paulatinamente partilhando através de cada monólogo registado frente à câmara, é a naturalidade demonstrada na abordagem de muitos aspectos da existência humana.
Por último, refira-se que a força metafórica da narrativa encontra uma vez mais expressão na peça vídeo em exposição, The Superabbit (your moments, your music), de 2002, um trabalho onde somos convidados a acompanhar a viagem realizada por um único protagonista – um coelho muito especial que se move a pilhas alcalinas – e a seguir de perto as considerações que vai expondo, tanto em alusão às reflexões ensaísticas de T.S. Eliot como a evidências irónicas que não podem ser totalmente estranhas ao mundo da arte e da cultura. Para além de constituir um momento central no trabalho de reconstrução de mundos ficcionais que Cabral Santo opera, e que enriquece sempre de evocações metafóricas, esta obra pode considerar-se um testemunho paradoxal das pesquisas que ele tem vindo a desenvolver em torno duma profusão de linguagens e códigos de representação, que vão da escrita à escultura, da pintura ao cinema, do teatro à televisão, da banda desenhada à animação. Um exercício no qual não se limita a citar essas linguagens, mas onde põe em evidência as características dos vários meios referenciados e explora processos de associação muito significativos. Como aquele que em Superabbit nos coloca em presença de elementos textuais e icónicos no interior da mesma imagem (assim reproduzindo formatos gráficos televisivos), cujo efeito é a fragmentação dos conteúdos narrativos e a evidenciação da estrutura composta do plano videográfico.

Close

Festa. Fúria. Femina. Obras da Coleção FLAD

Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas

RED LIGHT: Sexualidade e Representação na Coleção Norlinda e José Lima

Catálogo

BF20

Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira

COSMO/POLÍTICA

Livro

Espaço Comum

Exposição

RED LIGHT: Sexualidade e Representação na Coleção Norlinda e José Lima

Exposição

Festa. Fúria. Femina.

Obras da Coleção FLAD

Festa. Fúria. Femina: Obras da Coleção FLAD

Livro

COSMO/POLÍTICA #6

Biblioteca Cosmos

Catarina Botelho

qualquer coisa de intermédio 

COSMO/POLÍTICA #5

Comunidades Provisórias

COSMO/POLÍTICA #4

Quando as Máquinas Param

BF18 - Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira

Livro

BF18 - Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira

Exposições

Imagens com vida própria

Exposição

COSMO/POLÍTICA #3

O Mundo Começou às 5 e 47

Contra a Abstracção

Obras da Coleção da Caixa Geral de Depósitos

Nikolai Nekh

Calcanhar de Aquiles

COSMO/POLÍTICA #2

Conflito e Unidade

André Alves

Double Exposure

João Fonte Santa

Bem-Vindos à Cidade do Medo

COSMO/POLÍTICA #1

A Sexta Parte do Mundo

Damián Ortega

O ponto zero

Instalações Provisórias

Independência, Autonomia, Alternativa e Informalidade. Artistas e Exposições em Portugal no Século XX

Helena Almeida

Colecção CAM

António Palolo

Colecção CAM

António Areal

A.H.A.Q.O.V.F.P.P.S.A.F.T.

André Alves

Arame farpado/Dinamite: O poder da circulação livre

Desvios e derivas

Práticas críticas, artísticas e curatoriais, no contexto urbano

André Alves - Arame farpado/dinamite: o poder da circulação livre

Livro

O que mudou?

Das casas-ateliers aos estúdios do século XXI

Artistas-curadores

Novas condições para a exposição da arte

Neo-modernos

Revisitar os clássicos do século XX

Usos e recursos da arte contemporânea

Instalações fabris, economia e estética do abandono na era pós-industrial

Performatividade difusa

Objectos, instalações e animais domésticos

Das Academias às Universidades

O artista como investigador

A sagração do «white cube»

A persistência de um modelo moderno

Collecting Collections and Concepts

Livro

Arte Trabalho Museus Fábricas

COLLECTING COLLECTIONS AND CONCEPTS

Do it! Edit Yourself

A auto-edição em Portugal

O estado dos museus

Sucessos e fracassos do turismo cultural

Pedro dos Reis

A resistência das imagens

Miguel Palma

Acerca da densidade e do movimento

Parar e pensar... no mundo da arte

Bettina Funcke: Entrevista

100 Notes -100 Thoughts / dOCUMENTA (13)

Miguel Palma

A Falácia do Desejo

Una luz dura, sin compasión

El movimiento de la fotografía obrera, 1926-1939

Bárbara Coutinho: Entrevista

MUDE

Miguel Palma e Pedro dos Reis

Livro

Manuel Borja-Villel: Entrevista

O Reina Sofía é como uma cidade

João Fernandes: Entrevista

Tudo é possível quando falamos de Arte

David Santos: Entrevista

Museu do Neo-Realismo

João Maria Gusmão + Pedro Paiva

Bienal de Veneza 2009

Natxo Checa

Bienal de Veneza 2009

Paulo Mendes: Entrevista

Para uma arte política

Alexandre Pomar

Entrevista

João Pinharanda

Entrevista

10ª Bienal de Istambul

Gustavo Sumpta: Entrevista

RE.AL

Pedro Amaral

BAD BOY PAINTING COMICS

Raquel Henriques da Silva

Entrevista

Depósito

Anotações sobre Densidade e Conhecimento

Gustavo Sumpta

Primeira Lição de Voo Pobre não tem Metafísica

João Fonte Santa

O Aprendiz Preguiçoso

Luís Serpa: Entrevista

«Depois do Modernismo» & Galeria Cómicos

A acção do artista-comissário

Manuel J. Borja-Villel: Entrevista

MACBA

Miguel von Hafe Pérez

Entrevista

O poder da arte

Pedro Valdez Cardoso

Livro dos Actos

Salão Olímpico

Estudo de Caso

Alice Geirinhas

Nós, War & Love

Salão Olímpico

Livro

Pedro Gomes

Ter

Penthouse

Livro

Zonas de conflito. Novos territórios da arte

Projecto TERMINAL

Miguel Palma

Inventário artístico de um fazedor de raridades

João Pedro Vale

Terra Mágica

João Tabarra

LisboaPhoto

José Damasceno

Entrevista

Cristina Mateus

Entrevista

Vítor Pomar

Roteiro CAM

Pedro Sousa Vieira

Roteiro CAM

Fernando Lemos

Roteiro CAM

Carlos Nogueira

Colecção do CAM

Miguel Palma

Cemiterra-Geraterra (1991-2000)

Ângela Ferreira

Entrevista

Manuel Santos Maia

Entrevista

Vasco Araújo

Entrevista

Rigo

Entrevista

João Tabarra

O caminho sem fim

João Fonte Santa

A Regra do Jogo

Alice Geirinhas

Entrevista

Pedro Cabral Santo

Francisco Queirós

Entrevista

Ana Pérez-Quiroga

Diz que me amas

Lado a Lado

The First Step

Pedro Cabral Santo

Entrevista

Francisco Queirós

How could I miss you?

(Um) texto para os anos noventa

Arquivo contemporâneo

321 m2 – Trabalhos de uma colecção particular

Miguel Leal: Entrevista

Um Museu sem obras

Miguel Palma

Colecção de Arte Contemporânea IAC/CCB

Fernando José Pereira

Colecção de Arte Contemporânea IAC/CCB