Texto «João Maria Gusmão + Pedro Paiva», publicado em Experiments and Observations on Different Kinds of Air, catálogo da representação portuguesa na 53. International Art Exhibition – La Biennale di Venezia, DGArtes, Lisboa, 2009, p. lvii.
João Maria Gusmão (Lisboa, 1979) e Pedro Paiva (Lisboa, 1977) frequentaram conjuntamente o curso de Pintura da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e começaram a expor os trabalhos realizados em parceria em 2001, numa exposição colectiva intitulada InMemory, na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa. Desde então a sua produção artística está ligada a esta instituição. Nos três anos seguintes o percurso expositivo da dupla esteve marcado por projectos como DeParamnésia (partes 1, 2 e 3, em 2001 e 2002), Air Liquide (2002), O Ouro dos Idiotas (2003), Matéria Imparticulada (2004) e Eflúvio Magnético: O Nome do Fenómeno (2004). Em 2005 os dois artistas venceram a 5.ª edição do Prémio Novos Artistas, instituído pela EDP, e exibiram um conjunto de trabalhos intitulado Intrusão: The Red Square no Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea. No ano seguinte apresentaram Eflúvio Magnético (2.ª Parte), na Galeria Zé dos Bois, e Eflúvio Magnético (Síntese), no Teatro Municipal da Guarda. Em 2007 é organizada a primeira mostra individual do seu trabalho no estrangeiro, com a exposição Crevasse, no Museu de Arte Contemporáneo de Castilla y León (Espanha), seguida de várias outras individuais em 2008, como Horizonte de Acontecimientos, no espaço Matadero Madrid (Espanha), Hydraulics of Solids, na Adam Art Gallery at Victoria University of Wellington (Nova Zelândia), e Passengers: 1.7, na CCA Wattis Institute for Contemporary Arts, São Francisco (Estados Unidos). Nesse ano exibiram ainda Meteorítica, na Galeria Graça Brandão em Lisboa e na Galeria Fortes Vilaça em São Paulo (Brasil), Abissologia, na Cordoaria Nacional/Galeria Zé dos Bois, e Articulações, nas Minas de Salgema em Loulé. Em 2009 apresentaram About The Presence of Things, no Kunstverein Hannover (Alemanha). O seu trabalho foi mostrado em múltiplas exposições colectivas desde 2001, salientando-se a presença, em 2006, na 27.ª Bienal de São Paulo (Brasil), em 2007 na Trienal de Luanda (Angola) e na 6.ª Bienal de Mercosul, Porto Alegre (Brasil) e, em 2008, na Manifesta 7 – European Biennial of Contemporary Art, Rovereto (Itália).
Gusmão e Paiva desenvolvem os seus projectos artísticos no campo da fotografia e do filme de 16 mm e no domínio da instalação. A sua obra é em parte dominada por temas onde o âmbito de investigação experimental, a técnica, a invenção, o processo de descoberta ou o factor de risco surgem retratados de uma forma muito característica. Os materiais que utilizam são simples, a tecnologia é tratada sem meios sofisticados e os efeitos e fenómenos que transpõem para o meio artístico são concretizados promovendo uma incerteza relativamente à autenticidade do que foi visto. Além disso comportam uma outra nota de ironia e de absurdo, que são também traços característicos da sua obra conjunta.
Um aspecto fundamental da sua intervenção relaciona-se também com a produção escrita que acompanha o trabalho artístico dos dois autores. Nesse sentido deverá mencionar-se a reflexão teórica que desenvolvem em torno dos assuntos que pretendem abordar e as aproximações que fazem ao campo da literatura e a vários domínios da filosofia, da estética e da física. Na maior parte da sua pesquisa conferem um papel preponderante a questões que nos remetem para o pensamento de autores como Bergson, Nietzsche e Heidegger. Também Alfred Jarry, autor da «patafísica», definida como «a ciência das soluções imaginárias», constitui referência entre os interesses omnipresentes na obra de João Maria Gusmão e Pedro Paiva: a experimentação, a relação entre a ciência, a ficção e a poética.