Exposição: Espaço Comum
Artistas: Margarida Correia, Rodrigo Tavarela Peixoto, Tito Mouraz e Valter Vinagre
Local: Museu Municipal de Vila Franca de Xira
Dates: 2019-01-26 – 2019-03-10
Curadoria: Sandra Vieira Jürgens
Esta exposição do programa curatorial da BF18 – Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira — visa refletir a natureza comunitária e local do Museu Municipal de Vila Franca de Xira, convocando práticas artísticas fotográficas que abordem a noção de espaço e conhecimento comum. Margarida Correia, Rodrigo Tavarela Peixoto, Tito Mouraz e Valter Vinagre foram convidados a apresentar trabalhos sobre as representações culturais e os conhecimentos partilhados, quer do foro da história individual, quer da identidade e da memória dos territórios e das comunidades: do passado e futuro da sua cultura comum.
A identidade, a memória, a certificação de lembranças pessoais e coletivas são parte inerente da investigação fotográfica de Margarida Correia e muito particularmente do núcleo de trabalhos que agora apresenta no Museu Municipal. Trata-se de um projeto fotográfico sobre a comunidade portuguesa de New Bedford, no estado norte-americano de Massachusetts, que retrata alguns dos seus membros e a sua realidade, nomeadamente a relação com a pesca e o mar, e perscruta os seus álbuns fotográficos pessoais. O projecto dá a ver aspectos reais — históricos e contemporâneos — da realidade sociocultural vivida pela comunidade no país de acolhimento, bem como aspectos simbólicos relacionados com a história e sociedade do seu país de origem, entre a memória pessoal e a coletiva. Na abordagem de Margarida Correia ressalta a transposição de memórias essenciais e o desejo de as perpetuar, atenta ao uso expressivo e estético dos símbolos e da imagem no processo de construção identitária.
No conjunto de fotografias Marvila – Diário Breve, Rodrigo Tavarela Peixoto reflete sobre o território geográfico e humano da zona oriental de Lisboa. Esta abordagem ao contexto local deriva de uma investigação e residência de quatro meses, na qual o autor foi registando lugares, situações e contextos da paisagem cultural, social e económica de Marvila, colhendo aspectos da existência quotidiana num bairro há bem pouco tempo esquecido, hoje em processo de acelerada transformação. Patente no Museu Municipal de Vila Franca de Xira está um conjunto de imagens que assegura a memória da sua experiência – Arco-Íris, Bandeira, Flores, Cifrão, Racha e A Luta – e constitui o segundo volume de um projecto editorial que integra mais três cadernos fotográficos: #1 (A horta do Sr. Armindo e da Dona Ermelinda), #3 (Para memória futura), #4 (15 Árvores de Marvila).
Paralelamente ao registo visual, Rodrigo Tavarela Peixoto integra material textual, notas e comentários que permitem ao espectador enquadrar a sua experiência.
O conjunto de fotografias da série Fluvial de Tito Mouraz incide em paisagens e praias fluviais situadas no interior do norte e centro de Portugal. Nesta série, Tito Mouraz centra a sua visão e reflexão em experiências associadas ao lazer e à relação com o rio, particularizando a figura humana (como na imagem da mulher grávida e da que emerge da água), ou dirigindo a atenção para a natureza envolvente. A dupla perspetiva da obra, entre a observação mais documental e direta da realidade e a visão mais abstrata na referência isolada e fragmentada de pormenores da paisagem e elementos naturais contribui para uma certa estranheza visual, narrativa e poética das cenas, de que o espectador pode extrair as suas próprias associações num jogo de definição e significado.
Aparentemente registando paisagens desprovidas de especial relevância, na série Homem Morto Passou Aqui, Valter Vinagre evoca a memória coletiva através de um conjunto de fotografias de paisagem relativas a episódios da Guerra Peninsular (1807-1814), que opôs as tropas luso-britânicas às três invasões do exército francês em Portugal.
Em vez de se centrar nos símbolos e nos monumentos históricos das invasões napoleónicas, o autor procede a um aturado mapeamento do território geográfico e humano, registando os locais significativos das batalhas travadas naquele período, referenciados nos títulos das obras que compõem a série: Vimeiro, Roliça, Rio Maior, Buçaco, Cartaxo, Sobral de Monte Agraço, Alhandra. A ideia de ausência e de banalidade ecoam neste trabalho que reforça um jogo de correspondências sempre surpreendentes entre o visível e o invisível, o passado e o presente da paisagem geográfica e humana, assente no princípio da tensão e complementaridade dos sentidos visuais e concetuais. A inclusão de informação histórica surge distanciada das imagens e apenas nos títulos se referenciam os locais e as datas dos confrontos.