COSMO/POLÍTICA #3

O Mundo Começou às 5 e 47

Exposição: COSMO/POLITICS #3: O Mundo Começou às 5 e 47
Artistas: Hugo Canoilas, Miguel Castro Caldas e Tatiana Macedo
Museu do Neo-Realismo
Datas: 2018-11-24 – 2018-03-31
Curadoria: Sandra Vieira Jürgens e Paula Loura Batista

A terceira exposição do ciclo COSMO/POLÍTICA faz referência à peça de teatro O Mundo Começou às 5 e 47 de Luiz Francisco Rebello, escrita em maio de 1946 e levada à cena no início do ano seguinte, no recém criado Teatro-Estúdio do Salitre. Nesta fábula, produzida num contexto histórico de entusiasmo, no período do pós-guerra, o autor reflete sobre a exploração do homem, a condição humana e social, o idealismo, o fim de um mundo e a possibilidade de construção de um novo, contrariando uma visão pessimista e entendendo o teatro como uma arte para a superação e emancipação, numa leitura devedora dos valores da época.

Os três artistas convidados – Hugo Canoilas, Miguel Castro Caldas e Tatiana Macedo – respondem às questões sugeridas pela leitura contemporânea da peça através de obras originais, especificamente criadas para a presente exposição.

De certo modo, a indagação latente na fábula de Rebello sobre o que está em declínio e o que está por vir, suscita-nos uma reflexão sobre quais os mundos que estão por morrer e quais os que estão para nascer. Podemos pensar certamente em novos mundos baseados na equidade, na igualdade económica e na justiça social, na sustentabilidade ecológica, na solidariedade, na horizontalidade, na inclusão democrática e, certamente nas vozes que não podem ser capturadas, a questão central da releitura dos artistas desta exposição.

HUGO CANOILAS

Nesta exposição, o artista apresenta uma instalação composta por diversas peças e pinturas que evidenciam o questionamento e a problematização de questões atuais, reativadas pela projeção profunda que opera a partir do texto de Luiz Francisco Rebello. A leitura da fábula motivou Hugo Canoilas a repensar o papel das figuras que detêm o poder e o dos subalternos, a clivagem entre classes e o abuso de poder em diferentes esferas da sociedade, na política como na comunidade artística. Outra das questões que o artista aflora é o autocentrismo humano que determinou em grande medida a destruição dos ecossistemas, criando uma crise ecológica insustentável, à luz da qual o egoísmo das gerações atuais, a julgar pelo legado deixado às gerações futuras, é simultaneamente inquestionável e surpreendente. 

A instalação das obras de Canoilas repercute e territorializa o espaço pela disposição dada aos objetos e pinturas, mas sobretudo pela sua nomeação, eivada de sentido, através dos títulos atribuídos a partir de frases da peça de Luiz Francisco Rebello. São espaços negativos, como Canoilas se lhes refere, como o do quadro vazado com formas estereotipadas que apelam à conservação ou proteção da obra: Encolhe-te ainda mais, se possível; ou a falta de coragem intelectual e artística da comunidade cultural, refletida na obra Antes de atravessar, olha para o lado direito e não me vê avançar do lado esquerdo (concebida a partir da Silly Simphony de Walt Disney), suspensa por uma noite de vento num sinal de trânsito em Viena, cidade onde o artista vive, num processo de iniciação antes da chegada à exposição. Em suma, Hugo Canoilas apela ao risco que corremos quando se reduz uma crítica social ao compreensível, já que ao relativizarmos e ao aproximarmo-nos desse plausível entendimento, estaremos a sucumbir a um certo e perigoso conformismo.

MIGUEL CASTRO CALDAS

Escritor e dramaturgo, Miguel Castro Caldas tem manifestado nas suas obras um interesse fundamental por questões do teatro e das artes performativas, e vem desenvolvendo um pensamento sobre a escrita, o texto, os atores e as personagens, que integra a crítica do que é adquirido na linguagem. Porque este projeto do ciclo COSMO/POLÍTICA nasce do desejo de ler e reler a peça de teatro O Mundo Começou às 5 e 47 de Luiz Francisco Rebello, convidámos Castro Caldas a estabelecer um diálogo e uma reflexão sobre a peça e a visitar um outro território artístico, desenvolvendo uma intervenção específica no espaço expositivo, que conciliasse vertentes plásticas e performativas. 

Deste convite resultou Folheação, intervenção que reúne um texto original escrito a partir de aspetos da fábula de Luiz Francisco Rebello, e um dispositivo de instalação de folhas onde se inscreve essa narrativa, que funciona como cenário do solo que o autor apresenta no dia da inauguração. No texto, entre muitas outras questões abordadas, ressalta a ideia de vozes que não podem ser caladas nem capturadas e de estas serem maiores do que os corpos que as emitem. Se um estado totalitário pode aprisionar as pessoas, o grito pela liberdade perdura, pois as vozes coletivas resistem e não são aprisionáveis. No solo, a leitura do texto escrito decorre a par da passagem repetida das folhas, como se a par das vozes também estas pudessem passar da plateia para o público. Implícita nesta ação está a dúvida quanto ao mais determinante: se o que está escrito nas folhas ou o gesto que as faz passar, deixando estas de subordinar-se ao mero suporte de inscrição de um texto. Como uma coragem que é princípio em si, e cujo sentido precede a revolta.

TATIANA MACEDO

Tatiana Macedo centrou-se no título O Mundo Começou às 5 e 47 para olhar de novo para o seu arquivo de imagens. Seguindo um método característico do seu processo criativo concebeu um ensaio visual composto por oito imagens. Através de um trabalho de investigação e de edição, a dimensão deste olhar constrói-se por acumulação de camadas que dão sentido à sua visão de mundo. Para esta exposição, a artista seleciona do seu corpus arquivístico imagens que registou em diversos locais – Londres, Macau, Pequim, Hong Kong e Lisboa – e em diferentes momentos, entre 2004 e 2013. Estas imagens a preto e branco e a cores, apresentadas em tiras e dispostas em composições, estabelecem necessariamente relações espácio-temporais e evidenciam relações estéticas, relações humanas, de poder e de classe.

O conjunto integra imagens de casas, de ruas, de pessoas, de instantes e momentos mais ou menos privados que revelam esse olhar, também crítico. Os Homens de Smoking retratados no texto de Rebello são indiretamente evocados nas imagens da loja com os fatos pretos, vazios de sentido e de essência. Na fábula, monopolizam os poderes e tudo manipulam para que a ordem se mantenha inalterável, impossibilitando um mundo novo. A imagem de uma fotografia captada em Londres onde se lê Female Workers of all Lands Be Beautiful com a tradução em árabe, para além de enigmática, possibilita uma profunda reflexão sobre as questões de género. De certa forma, as composições de Tatiana Macedo remetem-nos para temas subjacentes ao discurso androcêntrico da peça Luiz Francisco Rebello, seja o da objetificação da mulher ou a sua redução aos papéis tradicionais femininos.

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