A Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira iniciou em 1989 a sua missão de divulgar a cultura fotográfica portuguesa. Desde então, tem vindo a proporcionar a descoberta e a revelação de sucessivas gerações de autores a trabalhar as mais variadas práticas fotográficas, criando uma ampla rede de colaborações com estruturas associativas e instituições, nomeadamente de ensino artístico, com o objetivo de estabelecer um espaço de representação alargado da criação fotográfica portuguesa.
Nesta edição de celebração dos seus 30 anos, a Bienal reafirma como seus propósitos fundamentais a promoção e o incentivo à produção artística nacional no domínio da fotografia contemporânea, numa iniciativa de larga repercussão local e nacional.
Na continuidade da edição passada, a atribuição dos Prémios temáticos sustentou-se num processo de seleção que, pautado pela transparência, privilegiou a consistência e qualidade das propostas, contando com um Júri de Nomeação, constituído por um Conselho de Curadores, e um Júri de Premiação.
O Conselho de Curadores, formado por António Júlio Duarte, José Luís Neto, Maria do Mar Fazenda e Paula Parente Pinto, individualidades e agentes culturais de reconhecido mérito nesta área, teve a seu cargo a avaliação das candidaturas e a designação dos artistas que foram convidados a expor trabalho original numa exposição coletiva que decorre no espaço do Celeiro da Patriarcal. Os artistas nomeados foram Cristiano Luís, Diogo Duarte, Eduardo Sousa Ribeiro, Fábio Cunha, Fernando Marante, José António Quintanilha, Leonor Fonseca, Marta Leite, Nuno Andrade e Rodolfo Gil. A partir dos projetos apresentados nesta mostra, o Júri de Premiação, constituído por Ana Anacleto, Celso Martins, Raquel Henriques da Silva e Sara Antónia Matos, deliberou os resultados do concurso.
José António Quintanilha foi o artista vencedor do “Prémio Bienal de Fotografia”. Em Coro do Gigante, conjunto de obras premiado, o júri considerou a maturidade, consistência e originalidade do projecto diarístico do autor, formado por uma sequência de fotografias de viagens com forte expressão alegórica.
A Marta Leite foi atribuída uma Menção Honrosa por Guerra e Nuvens, um trabalho mural em que a artista expõe cianotipias associando-as a textos de ensaio e literários de vários autores, estabelecendo uma ligação entre fenómenos meteorológicos e acontecimentos políticos.
A BF18 congrega na presente edição três exposições patentes de 26 de janeiro até 10 de março. Paralelamente à exposição no Celeiro da Patriarcal, com as obras dos dez candidatos ao Prémio, a Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira apresenta duas exposições paralelas que tornam o evento mais presente no munícipio, com a abertura e extensão da iniciativa a locais com valências suplementares. A exemplo da edição passada, a Bienal propôs organizar um programa curatorial simultâneo no Museu Municipal e na Fábrica das Palavras, dois outros espaços culturais de referência da cidade. Os artistas reunidos neste programa foram convidados a realizar peças específicas, abordagens a duas grandes linhas de trabalho que podemos identificar na fotografia contemporânea. No Museu Municipal, “Espaço Comum” exibe uma abordagem documental à realidade, com a apresentação de trabalhos de Margarida Correia, Rodrigo Tavarela Peixoto, Tito Mouraz e Valter Vinagre. Esta exposição apresenta vários testemunhos sobre vivências e memórias comunitárias, alargadas a diferentes territórios. Margarida Correia investiga a realidade sociocultural numa comunidade portuguesa cuja vida se centra na pesca e no mar. Tito Mouraz indaga experiências de lazer e a relação humana com a natureza, em paisagens e praias fluviais no interior do norte e centro do país. Rodrigo Tavarela Peixoto mostra uma série de trabalhos que resultaram da residência artística que fez em Marvila, durante a qual captou lugares e contextos da paisagem humana, expondo com humor a sua visão e experiência pessoal. Valter Vinagre trabalha sobre a memória coletiva num conjunto de fotografias de paisagens desprovidas de especial relevância mas relativas a episódios das três invasões napoleónicas em Portugal.
No seu conjunto, os trabalhos expostos representam uma evocação do termo “Espaço Comum”, entendido em sentido lato e tendo em consideração experiências individuais e coletivas, e diferentes perspectivas e âmbitos, históricos, identitários, geográficos, culturais, ideológicos e económicos.
Na Fábrica das Palavras, através de “Imagens com Vida Própria”, procura-se um espaço de representação para práticas e formatos experimentais e ensaísticos, com projetos de Duarte Amaral Netto, João Paulo Serafim, Mariana Gomes Gonçalves e Soraya Vasconcelos.
Duarte Amaral Netto apresenta uma instalação com uma atmosfera noturna, formada por imagens de sentido oculto, que partindo de factos científicos sobre a vida planetária explora possíveis futuros distópicos. O trabalho de João Paulo Serafim, formado por uma composição de imagens de contextos museológicos e patrimoniais, convoca a dimensão ficcional implícita à construção da memória.
Mariana Gomes Gonçalves tece uma abordagem reflexiva à representação visual com a apresentação de obras que evocam a autonomia e a materialidade da própria imagem e a possibilidade de pensar o conceito de não-imagem. Já no seu conjunto de peças, Soraya Vasconcelos reúne referências a dispositivos ópticos associados à história da imagem, colocando-nos perante a real experiência de ilusão dos sentidos e do pensamento requerida por qualquer ato de representação da realidade.