Texto «Francisco Queirós - How could I miss you?», publicado no catálogo da exposição Squatters/Ocupações, co-produção da Fundação de Serralves, Sociedade Porto 2001-Capital Europeia da Cultura, Centro de Arte Contemporânea Witte de With, 2001
Curadoria: Vicente Todolí, João Fernandes, Miguel von Hafe Pérez e Bartomeu Marí
Local: diversos lugares do Porto
Datas: 24.06 – 16.09.2001
Sempre presentes na obra de Francisco Queirós, as personagens do mundo infantil existem para protagonizar actos de explícita violência simbólica. Assim acontecia em peças como Friezenwall #1 (v.1.2 – the forest)(2000) e Friezenwall #3 (v.3.2 – 100 acre hood swimming` hole playset) (2000), onde a partir de um universo que encontra a sua referência primordial na experiência dos videogames, mimetizava com especial ênfase os movimentos estilizados e as acções mecânicas das figuras, sublinhando a agressividade dos comportamentos retratados. Em How could I miss you? (2001) Francisco Queirós trabalha também com dispositivos de manipulação da imagem, desta vez apropriando-se de efeitos próximos do universo tradicional da animação. Não se tratando de mera opção estética, é na própria natureza do seu trabalho, na presença do desenho, no carácter pessoal do traço e na imperfeição voluntária do registo animado que se evidencia o seu significado mais amplo. Ao recuperar a memória e o estilo particular dos filmes de animação, não apenas alia a nostalgia ao reforço da ligação afectiva ao imaginário infantil, como aprofunda a complexidade da sua abordagem, tornando mais paradoxal a associação que sempre estabelece entre certa atmosfera de inocência e o desencadear de manifestações mais agressivas. O mesmo registo pautava Friezenwall#2 (v.2.2 – tiny little movie – 1) (2000), onde o som da canção entoada por um coro infantil expunha a vulnerabilidade de um pequeno melro perante a acção da criança a quem fora confiado o seu destino. Todavia em How could I miss you? a explícita ingenuidade que tudo consente no mundo das brincadeiras surge relativizada. Francisco Queirós confronta-nos, até pelo título, ao arrependimento, e é através da expressão consciente do remorso que incita o espectador a questionar a permanência e a constância dos impulsos das suas personagens. Dinâmica que a repetição infinita da cena expõe com humor e que encontrando embora âmbito universal nas relações humanas, ganha aqui, pela inclusão da pequena cabana, uma particular expressão no território familiar. Esse espaço em que a perpetuação dos gestos é norma e onde a manifestação da agressividade, pelo constrangimento da intimidade, surge quase sempre esvaziada de sentido.