«João Tabarra» in Empirismos. Novas linguagens documentais em Espanha e Portugal (pp. 142-143). Lisboa: LisboaPhoto/CML, 2005.
João Tabarra (Lisboa, 1966) estudou fotografia no final dos anos oitenta e expõe individualmente desde 1991, tendo participado em inúmeras exposições em Portugal e em mostras e bienais internacionais. Desde essa data mantém uma actividade artística que abrange as áreas da fotografia, do vídeo e da instalação, sendo estes os meios preferenciais para desenvolver uma intervenção artística que tanto aborda questões fundamentais no contexto da sociedade contemporânea – a economia global, a política, o domínio da existência e a condição do indivíduo no seio da actual realidade social e cultural – como aspectos que dizem particular respeito ao valor da imagem numa era dominada pelos mass media e pelas mutações operadas pela massificação.
Por exemplo, o seu interesse por desencadear planos metafóricos a partir da criação de situações encenadas e proceder ao deslocamento de imagens que colocam a descoberto um mundo de vivências pautado por perplexidades e paradoxos está muito presente em obras como Olhos nos Olhos, de 2003. Trata-se de um trabalho que está associado à célebre fotografia de Che Guevara, da autoria de Alberto Korda. Nessa peça João Tabarra confere movimento à imagem e mediante a realização de um travelling, transforma o plano fixo e bidimensional da fotografia num percurso que vai de encontro ao rosto tridimensional do guerrilheiro. Sugere-se a tentativa de captar o olhar da figura, no entanto, não cumprida essa possibilidade, é a ocorrência da repetição que faz com que o espectador permaneça num infinito movimento de eterno retorno.
Paralelamente, será apresentado outro trabalho, intitulado Please don’t go, de 2004, em que à semelhança do acima referido, o artista centra a sua visão num plano fixo, desta vez uma ilha paradisíaca, e através de um exercício de aproximação à imagem concretiza uma reflexão em torno da cultura de entretenimento ligada ao turismo e à experiência do viajante moderno. Inicialmente vemos projectada a paisagem natural distante, constituindo esta uma imagem simbólica de um ambiente idílico, e de seguida, por efeito do zoom, algo muda. A ampliação da imagem produz-se a partir desse cenário paradisíaco em movimento, e o artista faz-nos descobrir o artifício, mostrando uma superfície opaca, em que as tramas de cor nos revelam estarmos perante uma ilustração de um postal turístico ou de um folheto publicitário. É também neste sentido, que num outro plano projectado desta obra, recria ilusoriamente o barulho produzido pelas ondas do mar através do simples acto de agitar continuamente uma caixa de madeira com parafusos.
Assim, os trabalhos apresentados sugerem um espaço de reflexão em torno da fabricação de paraísos artificiais, da construção de ilusões, bem como da dimensão universal e intemporal do pensamento utópico. Aspectos e questões que são reveladoras de uma prática artística que indaga o estatuto da imagem na actualidade e encontra no propósito de desmistificar as «realidades» contemporâneas, o fundamento para uma intervenção que faz valer a importância do plano ético no seio do campo artístico.