10ª Bienal de Istambul

Texto «10ª Bienal de Istambul», publicado na Artecapital.net, Novembro 07

Mais uma bienal? Não obrigada.
Num contexto mundial saturado pela multiplicação de bienais, que são apontadas como um dos grandes perigos do sistema artístico, a tentação é a de uma vez mais reforçar o discurso anti-bienal e denunciar a excessiva institucionalização da arte, bem como a ordem consumista que rege o circuito das grandes exposições internacionais. Ainda assim, à margem das críticas, talvez seja acertado começar a pensar que o desencanto e o cansaço são os sinais do nosso tempo. Começo então por colocar uma questão que me parece essencial: O que é que procuramos num evento desta natureza? Porquê ir a Istambul? Vai-se na expectativa de que esta seja diferente da maioria dos eventos que pontuam a paisagem internacional? Mais periférica, menos espectacular e com uma identidade própria mais vincada, mais local e com linhas de trabalho mais interessantes do que as cerca de 110 bienais internacionais que se foram criando nos últimos dez anos? A sua localização geopolítica, no cruzamento de diversas influências culturais parece determinante. Não vamos a tempo, a bienal transformou-se num fenómeno fashion, e ao que parece tem sido vertiginosa a velocidade da mudança. Assim o diz Vasif Kortun, que já foi comissário de edições anteriores, e do Pavilhão turco na Bienal de Veneza, e é actualmente o director do Platform Garanti Contemporary Art Center, espaço artístico de referência em Istambul.
Pois bem, nos seus critérios expositivos e temáticos, esta 10a edição da Bienal de arte contemporânea de Istambul comissariada pelo chinês Hou Hanru não marca um lugar alternativo na história das bienais. Ainda assim há aspectos positivos a reter. Em primeiro lugar a declaração de optimismo – «Not Only Possible But also Necessary: Optimism in the Age of Global War?» – que se contrapõe aos enunciados mais desencantados que servem de mote a eventos similares. Os temas de reflexão propostos por Hou Hanru para discussão e debate centram-se sobre o impacte da globalização, quer em termos das oportunidades que oferece quer nos seus aspectos mais negativos, caso dos conflitos globais que ajuda a expandir. De resto Hanru não esconde o «mal estar do presente» e inicia o seu texto afirmando que «vivemos tempos de guerra global». Aponta as contradições, os conflitos da mundialização, mas não sucumbe ao simplismo. Concede lugar de destaque à lógica da complexidade, num espírito revisionista capaz de desafiar a situação de impasse e as tensões entre a realidade da História e o pensamento utópico.
Os lugares de exposição têm uma natureza diferenciada e as motivações são muito claras. Uma intrusão no ambiente modernista do Centro Cultural Atatürk; uma acumulação de peças no hangar do Antrepo No 3, um velho armazém portuário situado sobre o Bósforo; e a apresentação de realidades artísticas na realidade social no complexo de mil pequenas lojas do mercado de têxteis IMÇ. Todavia nem todos os lugares e soluções expositivas alcançaram o mesmo grau de êxito. O IMÇ fica aquém das expectativas. A exposição aí patente, World Factory, aborda as questões económicas, as transformações na indústria e os diferentes modelos de produção e consumo dos países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento, mas parecem ter ficado gorados alguns dos seus pressupostos. A tentativa de levar a comunidade a participar nestes eventos e o desejo de deixar para trás o círculo restrito dos art lovers pareceu não ter conseguido realizar-se. Não houve fusão, convergência, cruzamento entre a arte e a vida que tivesse superado o estado de polarização. Não obstante, houve obras que expressaram bem as ideias temáticas propostas. Caso de The Da Zha Lan Project, de Cao Fei, que documenta as mudanças históricas, culturais, sociais e arquitectónicas que ocorreram naquela zona de Beijing, que outrora foi o centro desta cidade e um dinâmico polo da indústria artesanal, e que agora, depois de um processo de abandono, desertificação populacional e degradação, recebe a chegada de imigrantes que aí procuram a sua área residencial.
No Antrepo No 3, que alberga projectos que tratam temas relacionados com o mercado global, a emigração, o cruzamento de fronteiras internacionais misturam-se obras secundárias com intervenções de qualidade. Mas é sobretudo a exposição Burn it or not?, patente no Centro Cultural Atatürk, o momento alto desta 10ª Bienal de Istambul. Trata-se de uma exposição menos carregada de obras, com uma interessante selecção de artistas e um inteligente ritmo de leitura dos trabalhos propostos. Uma obra muito especial é a que nos prende a ouvir os testemunhos de várias pessoas sobre este edifício, situado em Taksim, a mais importante praça no centro ocidentalizado de Istambul. Nesta peça sonora de Erdem Helvacioglu, que constitui um dos dezoito artistas turcos convocados por Hou Hanru, são afloradas a carga política desta instituição pública, símbolo da visão utópica da República da Turquia, do projecto secular, progressista, moderno, do estado nação, que hoje enfrenta a possível destruição e uma controvérsia sobre o seu futuro, a proposta de demolição e a construção de um novo centro cultural. A esta presença destacada junta-se a força de trabalhos como os de Tomoko Yoneda que fotografou locais anacrónicos, símbolos da ideologia e da presença do comunismo na Hungria e na Estónia em 2004, no ano em que estes países passaram a fazer parte da União Europeia; e a série de fotografias de Vahram Aghasyan, sobre um complexo residencial de edifícios mortos numa cidade modernista fantasma, chamada Much, que o governo soviético idealizou, depois do terramoto de 1988, mas que abandonou antes de estar finalizada a sua construção.
Não creio que valha a pena discutir sobre se aqui estão os grandes valores e as tendências da época actual, mas um dos méritos inegáveis desta e de outras bienais é o seu carácter catalisador e mobilizador de questões que se prendem com a vivência do mundo actual. Consciente de que a Turquia atravessa um período delicado, gostaria de terminar realçando o caso da exposição patente no KAHEM (Centro Educativo Público Kadiköi), uma instituição que alojou projectos independentes e que está no coração da parte asiática da cidade. Construído nos anos trinta como parte do amplo projecto cultural e educativo da nova república foi negligenciado durante muito tempo pela vizinhança e pelas autoridades, mas que agora parece ter tido uma segunda oportunidade de evidenciar os seus ideais sociais e arquitectónicos. Por fim realço ainda as palavras de Beral Madra, uma das primeiras comissárias da Bienal, que na conferência O Futuro das Bienais juntou alguns «comissários-estrelas»: «o mais importante é o que muda entre a realização de duas bienais».

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